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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Evasão

Eu só queria que ventasse. Que as janelas batessem, as cortinas voassem, que entrasse chuva ácida no piso impecavelmente encerado, mas não sei nem se tem piso. Eu também não tenho pernas, de qualquer forma. Às vezes não tenho nem mesmo a mim. Arcar com a impotência do avesso do tão chamado senso comum é a punição por hora. Ou se faz um degrau, ou se faz um declínio.

Eu queria que a vidraça partisse em estilhaços e permitisse que o ar escapasse igual bicho, implacável e veloz. Se espalhasse em um contágio imediato, que pudesse ser ouvido a 7 mil quilômetros, ainda que só suspiro. Eu sei que é vontade de surgimento, de um delinear de formas claras, formas amplas. Formas que não se dissolvessem em mera conveniência. Eu estou louca? Não posso estar. Posso?

Eu sempre soube que o silêncio viria com a escuridão e que a escuridão viria. Sou guiada por sons agora. Deixo que a minha mudez se permita e ela se permite mais do que se fosse dilacerada e já tem muita coisa dilacerada pelo caminho. Tanta coisa. Tantos pedaços tão disformes que ninguém mais sabe onde se encaixava, dá pra acreditar? É o que muita gente ainda está tentando fazer. Bem difícil isso, aliás.

Não, ninguém sabe o peso de mais nada e está tudo bem por enquanto. Acho que é isso que está fazendo tudo prosseguir. O peso das coisas que ninguém tem coragem nem de pensar em carregar. É errado, não é direito de ninguém, apesar de lhe ter sido depositado uma vez. Não, não foi só dado, foi empurrado goela abaixo, e é isso que impermeabiliza os conceitos que todo mundo cria secretamente. Cavalo dado não se olha os dentes. Aliás, o cavalo lhe foi dado para que o deixe cavalgar livremente, ainda que ele lhe pisoteie, ele não sabe o que faz. Oh, sim.

Eu queria que as portas se abrissem, fossem arrombadas de voar a maçaneta na cara de quem está tentando fechar. Do que você quer se livrar? Do mundo lá fora? Acho que todo mundo gostaria, mas a gente aprende que não é assim ainda na escola. Agora faltar um dia é pular um século. Quer pular um século, mas poucos vivem um século para conseguirem viver no dia depois. E desse jeito nem deve ter muita graça.

Eu queria que o céu despencasse de onde foi colocado para pairar sem graça acima de abnegação. Eu queria que o céu despencasse em cada cabeça que se ache no direito de exigir que ele continue pairando sem graça sob a escassez.

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